01/02/2011
A nova presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Malvina Tuttman, disse em entrevista ao UOL Educação que as últimas duas edições do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foram utilizadas como “projeto piloto”. Elas ficaram marcadas pelo vazamento da prova em 2009, que forçou o adiamento do exame, e pelos erros de impressão no caderno amarelo e na folha de respostas em 2010. "O Enem foi utilizado nos últimos dois anos como projeto piloto, ao avaliarmos o impacto, ao montarmos uma proposta de ampliação", afirma.
De acordo com Malvina, o governo estuda uma grande reformulação no exame que, diz, “pode incluir” duas provas por ano. Segundo ela, não está em discussão no Inep a criação da chamada “Concursobrás”, uma empresa pública que ficaria responsável pelo Enem.
Além do Enem, o Inep é responsável por aplicar avaliações como a Prova Brasil e o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). O órgão também coordena as divulgações de estatísticas como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o IGC (Índice Geral de Cursos) e os censos da Educação Superior e da Educação Básica. O Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que usa as notas do Enem para seleção, é de responsabilidade da Secretaria de Educação Superior, vinculada ao MEC (Minstério da Educação).
UOL Educação - O Enem perdeu credibilidade com o vazamento da prova em 2009 e com os problemas de 2010. Como resgatar essa credibilidade? O quê dizer para um aluno que está desconfiando do Enem?
Malvina Tuttman - Discordo que o Enem perdeu credibilidade. Dou dois dados: é só nós compararmos os candidatos inscritos no primeiro exame e neste de agora. Outro dado: o numero de instituições que aderiram ao Enem de forma única ou parcial também se ampliou. Nesse sentido, a credibilidade não foi afetada. Se não, teríamos redução. Esse fato não aconteceu. Há todo um processo de logística, tanto das universidades ou faculdades que usaram. Nós estamos falando de 4 milhões de candidatos. Isso não justifica que tenhamos fragilidades, mas nos faz entender que essas fragilidades podem sim acontecer. As que aconteceram, nós já tomamos providências e aprendemos com ela. Possivelmente, outras questões poderão acontecer, não por falta de cuidado e planejamento sério da logística. O imprevisível acontece na nossa vida.
UOL Educação - O presidente da Câmara de Educação Superior do CNE (Conselho Nacional de Educação), Paulo Speller, sugeriu a regionalização do Enem e uma participação maior das universidades no processo. Isso está em discussão?
Malvina – É uma opinião que respeito muito, de um profissional, meu colega, reitor, mas foi uma opinião do professor, não foi do CNE. O que vou te adiantar é que nós estamos construindo uma agenda para o Enem. Estamos elaborando um projeto de aplicação no sentido de termos uma previsão de ampliação do Enem. O Enem foi utilizado nos últimos dois anos como projeto piloto, ao avaliarmos o impacto, ao montarmos uma proposta de ampliação. Não podemos avançar pontualmente. É preciso ter um avanço sistêmico que, brevemente, o ministro [Fernando Haddad] vai apresentar.
UOL Educação - E a proposta de fazer dois exames por ano?
Malvina – Nós não vamos mais pontuar, fazer essa mudança aqui, essa mudança ali, acrescentar isso, diminuir aquilo. Vamos ter uma ideia global de como o Enem vai ser enraizado no nosso país. Teremos uma agenda sistêmica: agora, vamos fazer 'isso'. Daqui a pouco, te digo: vamos fazer mais 'aquilo'. Vamos colocar de pé o Enem.
UOL Educação - Mas a ampliação inclui os dois exames?
Malvina – Pode incluir os dois Enem. Vamos apresentar todo o bolo. Vamos apresentar a proposta completa. Vamos ter a noção toda.
UOL Educação – Como seria essa reformulação do Enem?
Malvina – Não usaria a palavra reformulação. Usaria “projeto Enem para os próximos anos”. Uma proposta [que será feita] o mais rápido que puder, ouvindo todas as partes. Poderia te apresentar uma daqui a duas horas. Mas, aí, seria da professora Malvina. Melhor que tenhamos um prazo um pouco mais elástico e uma proposta mais consolidada.
UOL Educação – Está sendo discutida a criação de uma autarquia ou estatal para o Enem, que já está sendo chamada de Concursobrás?
Malvina – Não está em discussão. Não existe nesse momento nenhuma expectativa em relação à questão do Enem. O Enem faz parte do conjunto de ações do Inep. Por isso, vamos apresentar uma proposta completa, ampla.
UOL Educação – Então a proposta de criação da Concursobrás não está sendo discutida?
Malvina – O Inep não está nesta discussão.
UOL Educação – A área de TI (tecnologia da informação) é a mais sensível do Inep, vide o vazamento de dados de alunos no site do órgão no ano passado. O quê fazer para resolver esse problema?
Malvina – Todos nós somos responsáveis pelo Enem. Só que existem no MEC diferentes unidades. O Inep é uma dessas. Cabe ao Inep a tarefa de aplicar e elaborar a prova. Cabe à Sesu [Secretaria de Educação Superior, vinculada ao MEC] a tarefa de usar os dados do Enem que são fornecidos pelo Inep e pelo conjunto de profissionais ligados à TI do Inep. Os nossos profissionais têm trabalhado junto aos profissionais da Sesu na questão da TI para que as questões que ocorreram não mais aconteçam. Mas a equipe do Inep trabalhou cumprindo exatamente aquilo que lhe competia.
Fonte: UOL Educação