Será que o Brasil necessita da opção nuclear para obter energia elétrica? O mais recente “apagão” pode levantar essa discussão.
(Republicação de um texto do Canal Direto)
Toda usina nuclear funciona pelo processo de fissão e utiliza como combustível o urânio enriquecido. Um átomo desse elemento é separado em dois ou mais fragmentos, liberando energia. Uma reação típica é:
A energia obtida ao final de uma reação se distribui aproximadamente da seguinte maneira: 82% na forma de energia cinética dos núcleos produzidos, 3% como energia cinética dos nêutrons, 3,5% como radiação gama e 11,5% como energia dos decaimentos radioativos.
A energia obtida nas reações aquece o reator. Então, um fluido refrigerante leva parte desse calor a uma caldeira, onde ele é transmitido à água, que se converte no vapor que move as turbinas. Ou seja, a “parte nuclear ou atômica” da usina é apenas o “forno” que gera o aquecimento necessário. O restante do processo de produção de energia elétrica é semelhante ao de uma usina térmica convencional.
O Brasil tem duas usinas nucleares em funcionamento e uma inacabada, todas em Angra dos Reis (RJ). Elas fazem parte de um complexo chamado Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, que antes era conhecido como Central Nuclear de Angra.
Foto: Angra I
Cássia Dias Teixeira Santos / Positivo Informática
A construção da primeira usina desse complexo se iniciou em 1972. Ela entrou em funcionamento em 1982, mas somente a partir de 1985 começou a operar comercialmente. Sua capacidade de geração de energia elétrica é de 657 MW. Angra II, a segunda, passou a funcionar apenas em julho de 2000. A potência prevista inicialmente era de 1.309 MW; no entanto, por causa do avanço tecnológico (tendo em vista o atraso das obras), a potência obtida é de 1.350 MW.
Angra III foi contratada na mesma época que Angra II e é idêntica a esta, o que permite prever que também vai funcionar a 1.350 MW. Sua construção começou em 1984 e foi interrompida dois anos depois por falta de recursos. Atualmente, discute-se se ela deve ser terminada ou se o projeto deve ser encerrado definitivamente - políticos, economistas, cientistas, ambientalistas e a comunidade em geral estão manifestando-se. Os que defendem o prosseguimento afirmam que R$ 5 bilhões já foram gastos e serão perdidos se o projeto for abandonado e apresentam cálculos que mostram que o preço do MWh seria competitivo: cerca de R$ 140, o que está bem próximo dos R$ 139 do Mwh de uma termelétrica convencional. Outra alegação é a localização privilegiada do complexo nuclear, próximo a centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte (grandes consumidores de energia), e também do mar, que fornece água em abundância para o sistema de arrefecimento e facilidade de transporte de peças. Outro fator ressaltado é que o Brasil possui uma das maiores reservas de urânio do mundo, o que permite o suprimento das necessidades domésticas em longo prazo e a disponibilização do excedente ao mercado externo.
De acordo com o mapa acima, que foi elaborado pela INB, em 2001 o país possuía cerca de 309 mil toneladas de U3O8, distribuídas pelos estados da Bahia, Ceará, Paraná e Minas Gerais, entre outros, sendo considerado a sexta maior reserva geológica de urânio do mundo.
Cientistas e ambientalistas contrários à opção nuclear alegam, entre outros motivos, que o Brasil não precisa da energia nuclear, visto que apenas 25% do potencial hidrelétrico do país são utilizados, e não vale a pena correr o risco de contaminação e acidentes como o de Chernobyl. E existe também a questão do lixo nuclear. Por um lado, os defensores desse tipo de energia afirmam que há pouca poluição do ambiente e que a usina é capaz de produzir energia elétrica limpa. Entretanto, essa opinião não é compartilhada por entidades como o Greenpeace, que consideram o tratamento dado ao lixo nuclear em Angra inadequado.
Os rejeitos radioativos são classificados em três níveis de atividade: baixa, média e alta. Os de baixa e média radioatividade são normalmente roupas e ferramentas dos trabalhadores da usina. Esse material deve ficar isolado em galpões de concreto e eventualmente podem ser reutilizados. Em Angra, por exemplo, após uma inspeção, os 1.400 tambores que continham esses resíduos passaram a apenas 400, pois se constatou que muitos objetos já haviam perdido a radioatividade. Já os rejeitos de alta radioatividade são formados por elementos combustíveis irradiados e têm uma meia-vida que pode chegar a dezenas de milhares de anos, e por isso seu destino é uma questão crucial. Em Angra, esses resíduos são mantidos em piscinas, sendo a blindagem a própria água. Mas esse não é o local definitivo e não há ainda uma definição a esse respeito. O projeto para a construção de um depósito para o armazenamento do lixo nuclear já foi aprovado pelo Congresso e segue as normas internacionais, devendo ser feitos silos de concreto no subsolo. O que ainda não foi decidido é a cidade onde eles serão construídos.
Fonte: Portal Positivo
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