sexta-feira, 18 de março de 2011

Entenda o Acidente Radioativo no Japão


     Diante da tragédia que assola o Japão, deparamo-nos com uma preocupação que supera a dos fenômenos naturais ocorridos nesse país: a radiação provinda das usinas nucleares.
      Entre notícias, boatos, medos, divulgações fantasiosas e dados reais, surge a dúvida de como esse fato pode interferir na saúde dos habitantes das cidades de Fukushima e Tóquio, bem como nos das outras cidades japonesas e até mesmo no restante do mundo.
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     Primeiro, é importante entendermos como a radiação age e como ela se espalha no meio a ponto de tornar-se a ameaça anunciada.
   Segundo pesquisadores, diferentes tecidos reagem de formas distintas às radiações. Podemos considerar como células mais sensíveis as dos sistemas linfático e hematopoiético (medula óssea) e as do epitélio intestinal, fortemente afetadas quando irradiadas. Já os tecidos musculares e os neurônios apresentam baixa sensibilidade às radiações. 

Efeitos no organismo

     As radiações decorrentes da tragédia no Japão são classificadas como ionizantes, pois apresentam uma radiação classificadas como ionizantes, que consistem em radiações produtoras de íons,radicais e elétrons livres na matéria que sofreu a interação. A ionização se deve ao fato de as radiações possuírem energia alta o suficiente para quebrar as ligações químicas ou expulsar elétrons dos átomos após colisões. Esse tipo de radiação pode atuar no DNA e modificar sua estrutura, caracterizando um efeito direto.
      A contaminação pela radiação ionizante no organismo ocorre em quatro etapas:
  1. Estágio físico inicial - dura somente uma fração de segundo (10 a 16s), em que a energia é depositada na célula e causa ionização.
  2. Estágio físico-químico - dura cerca de 10 a 16 segundos , intervalo em que os íons interagem com outras moléculas de água, resultando em novos produtos.
  3. Estágio químico - dura uns poucos segundos, em que os produtos da reação interagem com as moléculas orgânicas mais importantes da célula. Os radicais livres (H, OH) e os agentes oxidantes (H2O2) podem atacar as moléculas compostas que formam o cromossomo.
  4. Estágio biológico - dura de dezenas de minutos a dezenas de anos, dependendo dos sintomas. As alterações químicas citadas acima podem danificar a célula de várias maneiras: provocando a sua morte prematura, impedindo a divisão celular, ocasionando mutagênese, entre outras.
     A ação da radiação sobre o DNA depende de vários fatores, ocasionando diversos processos no organismo.
  No DNA, ocorrem alterações químicas como: alterações estruturais das bases nitrogenadas e das desoxirriboses; eliminação de bases; rompimento de pontes de hidrogênio entre duas hélices; rotura de uma ou duas cadeias; e ligações cruzadas entre moléculas de DNA e proteínas.
     Essas alterações no DNA causam modificações somáticas e hereditárias.
    Os efeitos somáticos acarretam danos nas células do corpo da pessoa que recebeu a contaminação, mas não interferem nas gerações posteriores.
   Os principais efeitos registrados são assim descritos por Fabio Antonio Schaberle e Nelson Canzian da Silva, da UFSC  (Departamento de Física):
  1. Sangue: Os glóbulos brancos do sangue são as primeiras células a serem destruídas pela exposição, provocando leucopenia e reduzindo a imunidade do organismo. Uma semana após uma irradiação severa as plaquetas começam a desaparecer, e o sangue não coagula. Sete semanas após começa a perda de células vermelhas, acarretando anemia e enfraquecimento do organismo.
  2. Sistema linfático: O baço constitui a maior massa de tecido linfático, e sua principal função é a de estocar as células vermelhas mortas do sangue. As células linfáticas são extremamente sensíveis à radiação e podem ser danificadas ou mortas quando expostas.
  3. Canal alimentar: Os primeiros efeitos da radiação são a produção de secreção e descontinuidade na confecção de células. Os sintomas são náuseas, vômitos e úlceras no caso de exposição muito intensa.
  4. Glândula tireoide. Essa glândula não é considerada sensível à radiação externa, mas concentra internamente iodo-131 (radioativo) quando ingerido, o que causa o decréscimo da produção de tiroxina. Como consequência, o metabolismo basal é diminuído e os tecidos musculares deixam de absorver o oxigênio necessário.
  5. Sistema urinário: A existência de sangue na urina, após uma exposição, é uma indicação de que os rins foram atingidos severamente. Danos menores nos rins são indicados pelo aumento de aminoácidos na urina.
  6. Ossos: A radiação externa tem pequena influência sobre as células dos ossos, fibras e sais de cálcio, mas afeta fortemente a medula vermelha.
  7. Olhos: Ao contrário de outras células, as das lentes dos olhos não são auto-recuperáveis. Quando estas células são danificadas ou morrem, há formação de catarata, ocorrendo perda de transparência dessas células.
  8. Órgãos reprodutores: Doses grandes de radiação podem produzir esterilidade, tanto temporariamente como permanente. A sensibilidade de gestantes é maior entre o 7º e o 9º mês de gestação. Nas mulheres grávidas que foram expostas às radiações no Japão durante o episódio em que duas bombas atômicas foram lançadas sobre aquele país, houve um aumento significativo de partos retardados e mortes prematuras.
     No caso dos efeitos hereditários ou genéticos, o resultado da irradiação aparece nas células sexuais sendo transmitida aos seus descendentes, pois atua diretamente sobre as gônadas (órgão reprodutores). A mutagênese observada pode levar desde a morte do feto até alterações de má formação de órgãos.
     Sobre a contaminação no Japão, os níveis de radiação divulgados nos noticiários fornecem uma noção da gravidade da situação.
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Níveis de contaminação

     Normalmente segue-se a escala de sete níveis criada pelo INES (International Nuclear and Radiological Event Scale), para realizar a comunicação imediata de segurança e ação  em casos de acidentes nucleares. Essa escala é logarítmica, na qual cada nível representa um aumento de acidentes, aproximadamente dez vezes mais grave do que o nível anterior.
Níveis de contaminação por radiação ionizante, segundo o INES, são os seguintes:
Nível 0 - abaixo da escala. Nenhuma importância com relação à segurança.
Nível 1 - anomalia. Pode decorrer de uma falha de equipamento, de um erro humano ou de procedimentos inadequados. Essas situações são consideradas tipicamente “abaixo da escala”.
Nível 2 - incidente com falha importante dos dispositivos de segurança, resultante do fato de um trabalhador receber uma dose acima do limite de dose anual estabelecida e/ou evento que implique a presença de quantidades significativas de radioatividade em áreas da instalação para as quais, de acordo com o projeto, tal fato não seria justificável, exigindo-se medidas corretivas.
Nível 3 - liberação externa acima dos limites autorizados, resultando, para o indivíduo mais exposto fora da área da instalação, numa dose da ordem de décimos de miliSieverts (as doses são expressas em termos de dose equivalente efetiva; dose de corpo inteiro).
Nível 4 - acidente sem risco importante fora da área da instalação. Liberação externa de radioatividade que resulte, para o indivíduo mais exposto fora da área da instalação, numa dose da ordem de alguns miliSieverts. Com essa liberação, seria pouco provável a necessidade da aplicação de medidas de proteção fora da área de instalação, executando-se, talvez, um controle dos alimentos locais.
Nível 5 - acidente com risco fora da área da instalação. Liberação externa de materiais radioativos. Essa liberação resultaria, provavelmente, na aplicação parcial das contramedidas previstas nos planos para casos de emergência, com o objetivo de reduzir a probabilidade de efeitos sobre a saúde.
Nível 6 - acidente sério. Liberação externa de materiais radioativos. Essa liberação resultaria, provavelmente, na aplicação integral das contramedidas previstas nos planos locais para casos de emergência, visando limitar os efeitos graves sobre a saúde.
Nível 7 - acidente grave. Liberação externa de uma fração importante de material radioativo de uma instalação grande. Seria constituída, tipicamente, de uma mistura de produtos de fissão radioativos de vidas curta e longa. Essa liberação poderia ocasionar efeitos tardios para a saúde da população de uma vasta região, possivelmente, mais de um país, e consequências em longo prazo para o meio ambiente. Um exemplo desse nível é o acidente de Chernobyl, na Ucrânia (1986).
     A análise dos níveis de contaminação é feita com a utilização de um aparelho chamado contador geiger, que detecta a presença de radiação usando a capacidade que as partículas radioativas têm de ionizar certas moléculas de argônio que reagem produzindo a migração de íons criando um pulso de corrente elétrica que é transmitida a um amplificador, resultando num som característico. Quanto mais partículas radioativas houver, maior será a corrente elétrica, mais rápido o som é transmitido.
      O que nos resta a fazer diante desses dados e desse quadro vivido no Japão? Esperar que as autoridades japonesas, num gesto político, mas humano, repassem a veracidade dos dados para que possamos tomar as medidas necessárias para evitar, como pudermos, os danos à saúde, preservando a vida.
      Veja mais detalhes no vídeo a seguir:

Referência
SCHABERLEFabio Antonio; SILVA, Canzian Nelson. Introdução à Física da Radioterapia. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências Físicas e Matemáticas. Departamento de Física. 

Fonte: Blog de Biologia - Educacional

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