sábado, 30 de abril de 2011

Qual o segredo do vestibular: inteligência, esforço ou sorte?

    Neurologistas, psicólogos, matemáticos e os próprios vestibulandos respondem. 
            
           Conseguir uma vaga nas melhores instituições de ensino superior não é uma tarefa fácil. A concorrência cresce barbaramente a cada ano e a oferta de vagas avança em ritmo menor. Para se ter uma idéia, em 1999, 1.786.827 milhão de estudantes disputaram 894.390 mil vagas em todo o País - 192 de instituições públicas e 905 de particulares.
            Para conseguir uma vaga, muitos investem pesado nos estudos. Paula Gabriela Marin Figueira, 16 anos, pretende prestar Medicina. A paulista estuda no tradicional Colégio Bandeirantes, um dos campeões em aprovação no vestibular - cerca de 70% nas principais instituições de ensino superior em 2001. Mas, por "garantia", matriculou-se em um cursinho. "Anoto tudo o que os professores falam durante as aulas, assim gravo melhor as informações", afirma.
            Maira Teresa Lima Pereira, 22 anos, faz cursinho para conseguir uma vaga em Medicina Veterinária. No ano passado, passou para a segunda fase na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), mas foi reprovada porque errou todas as questões da prova de matemática. "Este ano eu não vou zerar porque tenho estudado muito mais. Estou mais confiante. Desta vez eu passo". Maira é mais uma estudante que abdicou das horas de lazer para ficar mais tempo com os livros.
            Mas qual é o segredo para passar no vestibular? Horas exaustivas de estudo sobre os livros, um quociente de inteligência (Q.I.) alto ou sorte?
            O neurologista Ibsen Tadeo Damiani, professor da Santa Casa de São Paulo e secretário da divisão de neurologia da Associação Paulista de Medicina (APM), explica que os vestibulandos têm que assimilar muita informação em um curto período de tempo. E o problema é que muitos dados acabam se perdendo pelo meio do caminho.
            "Quando estamos lendo, as informações visuais são transmitidas ao córtex occipital e percorrem um longo caminho até chegar ao lobo temporal", explica. "No processo, há uma alteração na taxa de disparos químicos entre os neurônios, as células que fazem a comunicação de dados no cérebro. Essa é a memória de curto prazo, que você usa rapidamente e esquece em seguida".
            Isto significa que para lembrar um dado duas semanas depois de tê-lo captado na mente, é preciso convertê-lo em memória de longo prazo. Esse trabalho fica a cargo do hipocampo, segundo o médico. "Depois que os dados são integrados aos circuitos do cérebro, o hipocampo descansa e quem trabalha é lobo frontal, estrutura responsável pelo processo de recordação. É ele que traz à tona todas as informações que foram devidamente estocadas".
            Em termos práticos, para conseguir armazenar uma avalanche de informações, é necessário ter motivação e interesse na hora do estudo, conta Damiani. "Períodos de muita ansiedade, estresse e depressão são as principais causas da amnésia".
            Mas existe uma fórmula para ajudar o cérebro a armazenar tantas informações? Rubens José Gagliardi, neurologista e vice-presidente do departamento de neurologia da Associação Paulista de Medicina (APM), diz que não. "O importante é que o jovem conheça o seu limite e adapte seu organismo para o horário que ele terá mais rendimento. Estar descansado é fundamental no aprendizado. Assim se evita qualquer situação adversa que comprometa a atenção".
            Este é o caso do estudante Bruno Piotto Hespanhol, 17 anos, que acorda às 6 horas todos os dias para estudar. "Funciono de manhã. Gosto de estudar com silêncio", diz.

"Não basta ter um Q.I. elevado e não saber manter a calma"

            Quem não faz muito esforço para aprender as matérias é Herbert Sollmann, 17 anos, ex-aluno do Programa Objetivo de Incentivo ao Talento (Point), voltado para superdotados. Ele dispensa os simulados do cursinho e garante que não estuda mais que quatro horas por dia.
            Durante o tempo em que se dedica aos livros, ouve música e assiste televisão ao mesmo tempo. "Se eu estudar por muitas horas, esqueço tudo o que li. Por isso, prefiro prestar atenção às aulas porque assim memorizo grande parte das informações". Sollmann é candidato a uma vaga em Engenharia Mecânica na USP.
            O teste do quociente de inteligência (QI) usa a escala de inteligência de Wechsler para avaliar o nível presente da função intelectual. Este teste fornece um escore de QI padronizado, de modo que 100 é o valor médio esperado para qualquer idade, com desvio padrão de 15.
            Para o psicólogo Rubens Riveras Valverde o teste do Q.I é um método questionável de se medir a capacidade de raciocínio lingüístico, matemático e lógico. Valverde explica que o sucesso no vestibular está mais vinculado ao equilíbrio emocional do candidato. "Não basta ter um Q.I. elevado e conhecer as matérias sem saber manter a calma. Conscientizar-se de que é capaz de aprender e discorrer qualquer assunto ajuda muito. Sem isso, perde-se a calma e surge o famoso 'deu branco', uma tensão nervosa que bloqueia o conhecimento e a inteligência", diz.
            O psicólogo constata que a falta de controle emocional explica o fato do aluno tido como "brilhante" não se dar bem nos exames. Ele acredita que o sucesso no vestibular não é exclusividade do gênio ou do conhecido "CDF". "A força de vontade faz com que muitos adolescentes que não são considerados inteligentes convertam esse sentimento em capacidade de passar em uma prova", diz.
            "Do ponto de vista matemático, é praticamente impossível passar no vestibular só chutando"
            Mas e aquela "fezinha", conta na hora da prova? Fábio Eiji Arimura, 16 anos, estudante do segundo ano do ensino médio diz que sim. Ele foi contemplado com seu nome na lista dos aprovados da Fuvest 2001, como treineiro em Ciências Biológicas. Arimura acredita que o segredo é saber chutar. "Não sou um aluno exemplar. Nem sei como eu passei no concurso. É sorte", diz.
            O matemático Jorge Oishi, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), não acredita muito neste história. O especialista calculou para o Terra quais seriam as chances de um candidato que não sabe absolutamente nada passar no vestibular através do "chutômetro", em uma prova de múltipla escolha com cinco alternativas.
            "Não importa a alternativa escolhida, a probabilidade de um aluno acertar no chute é de 20%. Para acertar duas questões, a chance diminui para 4% (1/5 x 1/5= 1/25 e 1/25 x 100) e para acertar três, fica ainda mais difícil: 0,8%", expliuca.
            Oishi esclarece que para conseguir 118 pontos na Fuvest, por exemplo, a probabilidade é 1/5 elevado a 118. O resultado: 3,32307 E-83 (uma seqüência de oitenta zeros e um três). "Isso dá a idéia da dificuldade. É praticamente impossível passar no vestibular chutando do ponto de vista matemático. Para quem não sabe nada, chutar ou resolver são quase equivalentes".
            Mas a estatística do matemático não é tão pessimista assim. "É claro que se o candidato chutar apenas algumas questões e souber a maioria, a coisa muda de figura. Ele pode ficar com duas alternativas, o que garante uma probabilidade de 50% de acerto", conclui.
            Independentemente de inteligência, esforço ou sorte, a maior parte dos especilistas afirma que a única solução para passar nas provas do vestibular é estudar. E manter a calma. Autoconfiança, motivação e estratégia também são decisivos para o sucesso.

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