segunda-feira, 4 de abril de 2011

Vestibular e internet tiram sono dos alunos


Pesquisa da Unicamp mostra que 75,9% dos estudantes apresentam indisposição pela manhã


04 de abril de 2011 - 19h 25
Leonardo Soares/AE
     O estudante Viniccius Boaventura, de 17 anos, não se desconecta facilmente.
     Leonardo Soares/AE
       O computador e a pressão vivida do período pré-vestibular estragam o sono dos adolescentes paulistanos. É o que mostra um estudo da  Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com 529 jovens, com idade de 16 a 19 anos. Entre eles, 75,9% apresentavam indisposição pela manhã e 45,9% tinham  sonolência diurna, quadros que interferem diretamente no processo de aprendizagem, segundo os especialistas.
        Participaram da pesquisa estudantes de escolas particulares e públicas, além de alunos de cursos pré-vestibulares. Coordenadora do levantamento e  doutora em saúde da criança e do adolescente pela Unicamp, Célia Regina da Silva Rocha diz que os estudantes têm dormido menos e pior. “Nossos adolescentes  dormem só de cinco a sete horas por noite.”
A pesquisadora concluiu que os jovens, às custas de horas de sono, “estendem demais o dia”. E fazem isso para “dar conta de tudo: navegar na  internet, estudar, ver televisão, sair com os amigos”. É exatamente essa a estratégia do estudante Viniccius Martins Boaventura, de 17 anos. “Sei  que eu dormiria melhor se desligasse o computador às 22h, mas não consigo”, afirma.
         Boaventura diz que costuma dormir entre 23h30 e meia noite e precisa acordar às 6h, para ir ao cursinho. A culpa do sono insuficiente também é da TV, segundo ele. “É o computador no colo e a televisão ligada disputando a (minha) atenção”, garante. E assume que, na hora de relaxar, sente dificuldades. “Passo dos 20 minutos até conseguir pegar no sono.”
         De acordo com Célia, o lado psicológico também tem forte impacto no descanso dos adolescentes. A pressão do vestibular, dos amigos e dos parentes, assim como a necessidade de o jovem fazer uma escolha profissional são, segundo ela, de tirar o sono. “O jovem tem de fazer uma decisão e imagina que ela é para ‘toda a  vida’. A qualidade do sono é prejudicada por esse estresse do período”, afirma.
         Para Boaventura, dormir à tarde é um jeito de tentar recuperar o sono perdido durante à noite. “Quando durmo mal, não consigo estudar à tarde. No  cursinho eu tomo café para não dormir, mas em casa eu durmo pelo menos uma hora e meia para aguentar fazer os exercícios”, admite.

Soneca vespertina

         A estratégia da compensação, contudo, não funciona, segundo os especialistas ouvidos peloJornal da Tarde. “Dormir no final  de semana por aqueles dias na balada, na internet ou estudando até tarde não tem efeito”, sentencia Célia.
         Professora da Universidade José do Rosário Vellano (Unifenas) e pesquisadora da Unicamp, a psicóloga Gema Mesquita diz que TVs e computadores têm duas características prejudiciais para o sono. “A primeira é a interação física e mental que envolve o ato de navegar na internet e assistir à TV. A segunda é a luminosidade”, explica. Nesse sentido, o computador é ainda mais prejudicial que a TV, pela grande proximidade do usuário com a tela.
         Noites mal dormidas podem reduzir a concentração e o controle emocional, além de afetarem a memória. “Podem comprometer até  mesmo o rendimento cognitivo”, explica Flávio Alóe, neurologista e neurofisiologista do Laboratório do Sono do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

ENTREVISTA

Gema Mesquita
Pesquisadora da Unicamp

‘Há uma epidemia de sono ruim’ É correto dizer que os jovens paulistanos sempre dormiram mal ou problemas do sono são características das ‘novas gerações’ de adolescentes?
         Os adolescentes estão cultivando hábitos ruins em relação ao sono. Hoje, vivemos uma epidemia da má qualidade do sono e da alimentação.

Computadores e o vestibular são os únicos vilões das noites mal dormidas?
         Não. Temos o álcool, os cochilos à tarde, as festas noturnas e a tecnologia em geral, como os celulares com acesso à internet. Os aparelhos estendem o tempo acordado e, com isso, a atividade cerebral é maior.

Como a atividade cerebral compromete o sono?
         Depois de um trabalho mental, é preciso de um tempo para a atividade cerebral diminuir e o corpo relaxar. Cada pessoa tem o seu tempo, mas é preciso respeitá-lo para conseguir descansar e dormir. Por conta da intensa luminosidade, os aparelhos tecnológicos são mais prejudiciais quando usados por muito tempo à noite. Dificultam o relaxamento.

Quanto tempo o adolescente deveria dormir?
         O sono médio dos jovens brasileiros é de sete a oito horas e meia. São necessárias pelo menos oito horas de descanso por dia.

Fonte: Estadão.com.br/Educação 

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